“O que é Yoga” parece uma pergunta de resposta simples, no entanto, é certamente muito mais complexa do que você imagina. Popularmente o Yoga é conhecido pela prática de posturas (asanas) e controle de respiração (paranayama). Será que é só isso?
Etimologia do Yoga
Quem já estudou um pouco sabe, mas não custa relembrar, a etimologia da palavra. Yoga vem de YUJ, classicamente traduzido como unir, jungir ou colocar jugo. Por isso, costuma-se dizer que refere união de corpo, mente, espírito. Na prática, faz muito sentido, afinal, se nos aprofundarmos, percebemos transformações que ultrapassam a fisicalidade.
Da mesma forma, se nos direcionarmo à origem e à cosmologia do Yoga, entendemos com mais clareza (não sem antes passar pelo caos) a amplitude da terminologia. Dito isso, trago aqui um sentido mais preciso: “yuj” significa arrear e juntar dois ou mais cavalos à frente de um carro (de combate). Como assim?
Bem, quem leu Bhaghavad Ghita não esquece da imagem de Krishna apontando o alvo a Arjuna. Assim como as demais referências ao Yoga nas escrituras antigas, há um quê poético na batalha incitada por Krishna a Arjuna em defesa do seu trono. Ela de fato não se limita ao conta ao mito. É, em verdade, carregada de significados.
Essa imagem refere a “tomar as rédeas” e cada cavalo representa um de nossos sentidos, pois , no momento em que a mente é dominada pelos sentidos, precisamos dominar os sentidos para que possamos dominar a mente.
No sexto capítulo do Bhagavad Gita, Sri Krsna explica a Arjuna o significado de yoga como a libertação do contato com a dor e o sofrimento:
“Quando a mente, o intelecto e o ego estão sob controle, liberados da insaciabilidade dos desejos, de forma que repousam no espírito interior, o homem torna-se um ser em comunhão com Deus. A chama de uma lamparina não oscila onde não há vento; assim acontece com um yog? ( aquele que pratica yoga) que controla sua mente, intelecto e ego que absorve em seu próprio espírito.
Quando a agitação da mente, intelecto e do ego se aquieta por meio da prática do yoga, o yog?, pela a graça do espírito que reside no seu interior, encontra a plenitude. Ele então conhece a alegria eterna que está além dos sentidos e que a razão não pode conceber. Ele habita nessa realidade e dela não se afasta. Ele encontrou o tesouro dos tesouros.
Nada existe de mais elevado, e quem o alcança não será abalado nem pelo maior dos sofrimentos. Este é o significado real do yoga – uma libertação do contato com a dor e o sofrimento.”
O Kathopanisad descreve yoga da seguinte maneira:
“Quando os sentidos se aquietam, quando a mente está em repouso, quando o intelecto não oscila, então, dizem os sábios, o estágio mais elevado é alcançado. Este imperturbável controle dos sentidos e da mente foi definido como yoga. Aquele que o atinge torna-se livre da ilusão.”
Traduzindo a imagem em conexão com a palavra YUJ, trata-se de domar os selvagens corcéis dos cinco sentidos.
Livros Clássicos do Yoga
Esse é apenas um exemplo de um texto clássico que compõe a literatura védica e que é parte da escritura antiga Mahâbhârat (séc VII a II a.C). Pretendo me aprofundar mais nos textos clássicos em breve, mas não aqui.
Trago, assim, o Ghita apenas como um exemplo. Este livro nos traz 16 Yogas, dos quais se destacam Jnãna, Karma e Bhakti e nenhuma delas refere, ainda, a pratica de posturas. E isso nos comprova o quanto no Ocidente estamos distantes de compreender a profundidade do tema.
Podemos, então, entender que o Yoga mais antigo sequer tratava da questão de uma prática física para o corpo. Direcionava, sim, sua atenção muito mais à espiritualidade e ao controle da mente como forma de iluminação.
Outros textos tratam do Yoga, tais como os Shiva Sutras (séc. IX a.C), os Yoga Sutras (Séc. II ou II a.C.), os Upanishads do Yoga (séc. II a IV d.C.) e, mais recentemente o Hatha Yoga Pradipka (séc. XVI d. C.) e Shiva Samhita (?). Para compreender um pouco esse universo, é necessário termos em mente que esses – e outros textos clássicos – surgiram muito depois do Yoga em si.
Yoga, Transmissão Oral e a Relação Guru – Discípulo
O Yoga existe há aproximadamente 5.000 anos e era transmitido de guru para discípulo através da oralidade. Mesmo depois do surgimento das escrituras, o conhecimento espiritual não era para todos.
Segundo o estudioso Tinoco (2005), o homem na sociedade védica passava por quatro fases: Bramacharin- quando jovem (8-12), era iniciado e ia residir com um mestre espiritual; Grihastha -após 30 anos podia se casar; Vanaprastha – nos primeiros sinais de velhice podia abandonar sua família sem constrangimentos, morar na floresta e ser orientado por um verdadeiro mestre espiritual; após a iluminação, tornava-se um Samnyasin ou “aquele que renunciou” , devendo guardar silêncio e falar somente sobre o Absoluto ou Brahman.
O que de fato se apresenta com isso é que o conteúdo é apresentado de forma hermética e metafórica, sendo imprescindível a presença do interlocutor para repassar, traduzir e fornecer a devida compreensão em torno dos temas tratados.
Em detrimento disso, estudar direto nessas fontes sem nenhuma introdução ou interlocução é deveras desafiador. Contudo, depois que você tem uma certa proximidade com os temas, é encantador e transformador acessar esse material.
Invasões e Imprecisões
Um outro aspecto que devemos considerar são as questões históricas, geográficas e culturais em relação à Índia. É um país gigante e populoso, composto de uma grande diversidade de civilizações e de invasões culturais e inclusive escravagistas – embora alguns teóricos neguem esse fato.
Pretendo apresentar no seguimento dos textos essa questão mais detalhadamente. Por hora, é importante mencionar que as invasões arianas devastaram civilizações e instauraram o patriarcado e o sistema de castas. Isso se reflete, então, na manutenção de escrituras que promovem a continuidade desse sistema e na destruição de tudo que se opõe ao sistema ortodoxo.
Sobre isso, nos ajuda também a compreender a imprecisão em relação há quanto tempo o Yoga existe e a quais vertentes vieram antes. O mesmo ocorre em relação ao acesso a materiais extintos com o desaparecimento de culturas inteiras que poderiam ter tratado desse assunto ou mesmo de aspectos complementares à filosofia da Índia como um todo (a exemplo das sociedades matriarcais).
História do Yoga
Yoga Clássico
Segundo Anna Trökes, em algumas partes das escrituras antigas (Vedas), o Yoga é trazido até mesmo como um ritual mágico que incluía sacrifícios de animais ou rituais do fogo. Aos poucos estes rituais foram se tornando complicados e dando lugar a um ascetismo extremo.
A partir daí, desenvolveu-se um caminho contrário, conduzindo ao sacrifício interior e colocando a meditação como constituição do autêntico Eu do ser humano em sua relação com o Eu Cósmico que é parte dos Upanishads. Neste caminho, o Yoga se popularizou como religião oficial.
Com o Bhagavhad Ghita, são trazidos três caminhos complementares, conforme já citado, O Yoga da Ação (Karma), O Yoga da Consciência (Jnana) e o da entrega amorosa ao divino (Bhakti).
Os Sutras de Patãnjali trouxeram um valor científico e sistemático válido até hoje. Ao diagnosticar o que perturbava o espírito e o que se opunha ao crescimento interior e à sua autoconsciência, desenvolveu exercícios adaptados às necessidades e capazes de solucionar problemas,
Era Tântrica
O tantrismo Shivaísta da Cashimira abalou a Índia ainda com propostas muito a frente de seu tempo, influenciando religiões “oficiais” como o hinduísmo, o budismo e o jainismo.
Segundo Pedro Franco, na era pré-tântrica, o mundo era concebido como ilusão (maya), o corpo e o ego como obstáculo. Não se conhecia qualquer postura que não fosse sentada. Osc filósofos clássicos promoviam Vivekaja (discriminação)- limitando a prática aos homens que tinham castas, incentivando a supressão de Samskara (condicionamentos) e acreditando na libertação através da morte que é quando o indivíduo se livra do corpo.
Chamados de heterodoxos, os tântricos traziam a visão de corpo como templo sagrado – combinando diversas técnicas para levá-lo ao seu potencial máximo. O ego era visto por eles como um instrumento de identificação a ser observado. Ao invés da supressão dos condicionamentos, estimulavam a busca por novos condicionamentos – criando pontes para a consciência. Acreditavam na libertação através da transcendência da forma, conectando-se com a não-dualidade e a não separação de corpo e alma, mente e espírito.
Reivindicavam, ainda, o acesso da religião a todos (independente de casta, gênero ou crença), promovendo Yogaja – união e integração – e, com isso, transcreveram as escrituras a um número infinito de línguas.
Veremos mais adiante que há uma diferenciação inclusive na interpretação dos sutras.
Hatha Yoga
O Hatha Yoga desenvolve, então, a relação com o corpo. Assim, traz o foco no encontro do alunos com Deus conectando-se com a energia vital (prana) através da respiração e da conexão com o ritmo que esta energia expressa incialmente (shakti). Dessa forma, possibilita a descoberta da expressão da consciência pura (shiva).
Desenvolveram, deste modo, um programa de exercícios de purificação, de técnicas de respiração e concentração e de incorporação da voz, sendo que mulheres podia praticar.
Obscuridade e Renascimento
Houve após isso um período de obscuridade pois os ideais antigos voltaram a ter peso, mulheres foram excluídas da prática e algumas dessa técnicas foram até mesmo repudiadas.
O Renascimento aconteceu durante o século XX, em detrimento da colonização britânica e do grande interesse de historiadores europeus. As velhas técnicas foram ajustadas à necessidade do homem e foram iniciadas as primeiras investigações científicas dos benefícios do Yoga.
A chegada no Ocidente aconteceu após um congresso e se popularizou no anos 60, com a natureza dos exercícios em prol de uma vida mais saudável. No final dos anos 90, o Yoga se misturou com técnicas somáticas e foi ganhando cada vez mais vertentes.
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Conteúdo: Clarissa Brittes
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