O que é Yoga Contemporâneo?

Afinal o que é Yoga Contemporâneo? Podemos pensar a contemporaneidade como a atualidade, já que esse é o momento em que vivemos. No entanto, podemos também entender que não há uma linearidade na concepção do pensamento.

Entretanto, o tempo e o espaço não são exatamente os fatores que nos levam a compreender o tema. Disserto um pouco aqui, então, sobre alguns conceitos trazidos de estudos contemporâneos para a Arte e para a Educação para nos ajudar nessa compreensão.

Yoga Contemporâneo e o conceito de Atualização

Segundo Heráclito, “não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. A cada instante o rio se modifica, assim como nós. Por essa razão, ainda que fosse possível repetirmos as condições de uma experiência tal e qual, não seria possível reviver o mesmo momento.

Cibele Sastre também nos fala sobre isso em seu artigo “Nada é Sempre a Mesma Coisa”, quando utilizando um mesmo motif de Laban e uma mesma experiência com a cadeira, observa as variações da uma mesma cena/performance repetida.

Não devemos pensar em algo atual no sentido de que o passado está “desatualizado”, mas, sim, na forma de atribuir novos valores e sentidos para o mesmo conhecimento. E isso acontece também quando entrelaçamos coisas “novas” que aprendemos com outras que já conhecemos.

Contudo, não há uma ordem cronológica ou uma definição exata de tempo-espaço para a existência de uma forma de pensamento. Nem mesmo do quanto as ideias podem ser simultâneas e emanentes.

Atualização X Evolução

Dessa forma, não trataria a ideia de atualização em uma aproximação com o evolucionismo. Esse último parte de um estudo antropológico que considera civilizações mais ou menos evoluídas do que outras, ao invés de brindar à simples diferença de sentido e valor que se atribui aos aspectos da vida.

Esse mesmo sentido podemos atribuir à relação com o tempo. Podemos até mesmo dizer que, há milênios atrás, algum ser pensante poderia estar tendo ideias muito conectadas com os dias de hoje, ou seja, à frente do seu tempo. Em contrapartida, pode ser que ainda hoje, na era do terceiro milênio, pensamentos arcaicos e ultrapassados estejam pairando sobre nós (né?). Como definir, então, a ideia de contemporaneidade?

Pensamento Clássico e Pensamento Heterodoxo

O Yoga é um dos darshanas do hinduísmo, definido pela união de corpo, mente e espiritualidade a partir de um entendimento de uma fusão de camadas múltiplas. Ainda no pensamento clássico, existem diferentes visões do Yoga, lembrando que lidamos com pensamentos ortodoxos e heterodoxos.

Heterodoxia vem do grego heteródoxos, ou “de opinião diferente”. Inclui “quaisquer opiniões ou doutrinas que discordem de uma posição oficial ou ortodoxa”. Descreve, pois, o desvio de padrões ou crenças aceitas e em referência ao status quo de um mesmo tempo-espaço.

A ideia de que pensamentos ortodoxos e heterodoxos convivem num mesmo tempo-espaço, reforça a ideia de que o conceito atualização não está ligado a uma ideia que já passou ou que é ultrapassada. Estamos, sim, nos referindo à recontextualização de um pensamento à diferentes experiências de tempo-espaço.

Para entendermos um pouco mais, trago alguns conceitos da Arte Contemporânea e da Educação Contemporânea.

Arte Contemporânea e alguns conceitos

A Arte Contemporânea surgiu como tendência a partir do pós-modernismo. Pretendo futuramente tratar da tendência instaurada pelo modernismo, a partir de uma proposição de afastamento das técnicas vigentes em todas áreas artísticas. O Estudo do Movimento, por exemplo, é algo que colabora muito para a compreensão da técnica do Yoga e que foi influenciado por tudo isso.

Para esse momento, fica registrada a influência modernista nesse processo. Ao se aprofundarem os questionamentos, surgem conceitos bastante interessantes que compõem a Arte Contemporânea, tais como: a mistura de estilos e técnicas, a fusão entre a arte e a vida, a aproximação com a cultura popular, a indefinição, o questionamento da definição de arte, maior valorização do conceito, da atitude e da ideia da obra, a liberdade e a efemeridade.

Arte Contemporânea e Yoga

Trazendo essas definições para o Yoga podemos pensar que estamos adaptando as proposições milenares dessa técnica à nossa vida cotidiana e à nossa cultura. E isso seria atualizar a experiência ao nosso tempo, ao nosso espaço, ao nosso cotidiano.

Da mesma forma, estamos “misturando” essa ferramenta com outros estudos e concepções. Com isso, podemos adicionar ao entendimento da medicina e do pensamento oriental tudo aquilo que construímos a partir da medicina e anatomia ocidentais.

Em conformidade com isso, são muito bem vindos todos os conhecimentos adquiridos em relação a práticas corporais e terapêuticas, estudos do movimento, fisiologia, dança, artes marciais e acrobacia. Assim como a Dança Contemporânea bebe em muitas fontes que se justificam pelo conceito daquilo que se quer desenvolver, o Yoga Contemporâneo se apropria e se utiliza daquilo que for necessário para sua construção.

Pensamento Filosófico e Educação Contemporânea

“Atravessamento” traz a ideia de que os conhecimentos que se atravessam, se complementam e se acrescentam.

Ao trazermos o conceito de Rizoma, conceito do pensamento filosófico de Deleuze no século XX, é possível compreender o atravessamento como uma importante forma de assimilação, autonomia e transformação social na educação.

Assim, tal compreensão contribui para a formação de indivíduos que se envolvam no processo educacional inserindo sua própria realidade no processo e se abrindo para a transformação social a partir dela e para novas experiências. E são esses os princípios da Pedagogia da Autonomia desenvolvida por Paulo Freire.

O que é Rizoma?

Segundo a botânica e segundo o dicionário, Rizoma é um “caule subterrâneo e rico em reservas, comum em plantas vivazes, caracterizado pela presença de escamas e gemas, capaz de emitir ramos folíferos, floríferos e raízes”.

O conceito epistemológico de rizoma seria, então, esta forma em que o pensamento se abre como raízes, como galhos. Em outras palavras, os rizomas são espécies de braços abertos dentro de uma trajetória histórica que interrompem o fluxo contínuo dela e abrem novas formas de articulações dos elementos.

“É preciso fazer o múltiplo, não acrescentando sempre uma dimensão superior, mas ao contrário, de maneira simples, com força de sobriedade, no nível das dimensões que se dispõe, sempre n-1. (…) Há rizoma quando os ratos deslizam uns sobre os outros. Há o melhor e o pior no rizoma: a batata e a grama, e a erva daninha. (…) Qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro e deve sê-lo. (DELEUZE, 2010, p. 15)

O rizoma é feito de linhas: tanto linhas de continuidade quanto linhas de fuga como dimensão máxima, segundo a qual, em seguindo-a, a multiplicidade metamorfoseia-se, mudando de natureza. É o que já foi. “O rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga.”

O Rizoma e o conceito de Atravessamento

A ideia do Rizoma entrelaça o conceito contemporâneo para educação , tratando da geração de autonomia e da ideia de assimilação e ressignificação dos conteúdos a partir das individualidades de cada ser inseridx na sua realidade.

A preservação da visão de mundo de cada um e da liberdade de escolhas vai fazer com que cada um tome as rédeas do seu aprendizado. E da mesma forma que o conteúdo é aprendido através dessas lentes, ele é compartilhado.

Com isso, quero dizer que o educador deve incentivar que atravessamentos aconteçam e que, ao mesmo tempo, ele mesmo é composto deles.

O Yoga Contemporâneo

Finalmente, pensar num Yoga Contemporâneo contempla realizar as misturas que forem necessárias para a compreensão e relativização do ensinamento. Requer pensarmos no nosso tempo-espaço e nessa integração entra visão de mundo oriental e ocidental da forma que fizer sentido para cada um. Entende esse conhecimento milenar como algo que cada um irá atualizar à sua maneira. E nos lembra que a autonomia, a diversidade e a geração de empoderamento são sempre bem-vindxs.

Conteúdo por Clarissa Brittes

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